segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Os segredos do Barcelona


O Barcelona de Guardiola é, em minha opinião, o melhor conceito de jogo de que há memória. Toda a gente se delicia com a forma como a bola é circulada e como os espaços são preenchidos, mas na prática ninguém consegue chegar perto daquela harmoniosa forma de jogar. Até aqueles que, publicamente, dizem identificar-se totalmente com este Barcelona não conseguem, de todo, fazer com que as suas equipas materializem o tão falado TIKI-TAK.
Mas, o que faz do Barça uma equipa tão diferente? Quais os princípios do seu jogo que lhes permitem fazer o que ninguém faz? É isso que vou tentar responder.

Todo este Barça é Guardiola e Guardiola, ao contrário do que dizem por aí, não é a cópia de Cruyff. Na cabeça deste super treinador está uma forte obsessão pela posse de bola, obsessão essa que nasceu do Barcelona de Cruyff (grande equipa, mas muito menos elaborada que o Barça actual) sendo, no entanto materializada de uma forma distinta.

Conceito base de todo o jogo do Barcelona - Efeito dominó:
 Fazer com que a bola saia do Guarda-redes e vá até aos avançados sem saltar etapas.
1.       A lógica do homem livre - A equipa encontra-se em 4-3-3 com os defesas centrais muito abertos (vértices da área), os laterais muito subidos, o triângulo do meio campo bem aberto e os extremos e o avançado muito subidos. Valdez toca num central e este conduz a bola até lhe sair ao caminho o avançado adversário. Aí, a bola é tocada para o Médio defensivo ou para o outro central (homem livre) ficando desde logo o primeiro adversário batido. Depois o médio defensivo (Busquet por exemplo) leva a bola, atacando o espaço, até lhe sair ao caminho outro adversário, aplicando-se de novo a lógica do homem livre. Praticamente é um conjunto de situações consecutivas de 2 contra 1.
2.       O 3º Homem – Toda esta dinâmica complementa-se com este homem. O 3º homem é aquele que se encontra numa posição mais alta no terreno (avançados ou extremos, por exemplo) e que simplesmente pede a bola mas na verdade não a quer. A sua intenção é sempre tocar de imediato para os médios que se encontram nas suas posições, bem de frente para o jogo.
Exemplo prático: Busquet tem a bola e, à saída do seu adversário, passa-a a Villa que na verdade apenas fez o movimento de vir buscar, não para se virar e ficar com a bola, mas sim para a entregar, de primeira, a Xavi ou Iniesta que se encontram já numa posição privilegiada para definir a jogada.
3.       Sair sempre a jogar pelo meio – este princípio tem apenas uma excepção que se prende com o facto de os laterais conseguirem receber à frente dos seus adversários directos. Caso isso não suceda, Guardiola quer sempre que a equipa saia a jogar pelo meio libertando assim os extremos. Estes encontram-se em largura total e quando conseguem receber (depois de algum tiki-tak pelo meio já explicado mais a cima) vão quase sempre em diagonais para a baliza.
4.       Poucas trocas posicionais – Se repararmos vemos uma dinâmica fortíssima e mobilidade tremenda mas muito poucas trocas posicionais. Raramente vemos Pedro, por exemplo, a vir buscar ao meio e Iniesta a abrir numa ala. Este factor permite aos jogadores terem as suas missões melhor definidas e concentrarem-se assim apenas no que devem fazer nas suas posições.
5.       Atacar preparados para defender – Todo o jogo posicional do Barcelona (outra obsessão de Guardiola) caracteriza-se por ter sempre coberturas ofensivas – mais vulgarmente chamadas “apoios” – com uma dupla missão: dar sempre uma linha de passe segura ao portador da bola e, caso esta seja perdida, pressionar com tudo o adversário que a roubou. Desta forma Guardiola consegue que a sua posse de bola seja aumentada a dobrar, pois se por um lado apoia o portador da bola para que este não a perca, por outro, caso isso aconteça está logo pronto para a recuperar rapidamente.
6.       O segredo de Messi – O posicionamento de Messi é um dos grandes segredos para que seja, provavelmente, o melhor jogador do mundo. Quando a equipa ataca, este jogador tem liberdade total para ser o 4º homem do meio campo (aparece como homem livre e como 3º homem e quando se encontra mais aberto, faz ele as diagonais para o meio), tendo apenas a obrigação de aparecer na altura de finalizar. Quando a equipa perde a bola apenas se concentra em pressionar naquele momento (transição defensiva). Na prática, não tem mais nenhuma missão defensiva. Este facto faz com que Messi esteja sempre “fresco” para atacar.

Podia sem dúvida ser mais extensivo e falar de mais princípio desta super equipa e deste super treinador, mas parece-me que estes são o ADN desta equipa e o motivo pela qual ela é tão diferente de todas as outras equipas do mundo.

É minha intenção, no meu próximo artigo mostrar em vídeo todos os princípios que aqui vos falo. 


terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Zona Pressing" como método defensivo de eleição


Antes de mais é importante esclarecer onde se enquadra o método defensivo “zona pressing” no jogo de futebol. Então partimos do princípio de que todo o jogo dinâmico da equipa está dividido em 4 momentos: organização ofensiva, organização defensiva, transição ofensiva e transição defensiva. Podemos, portanto, considerar o método defensivo “Zona Pressing” como um “grande princípio” da organização defensiva da equipa.


Mas será que todas as equipas defendem desta forma? Na verdade, não. Por vezes há treinadores que dizem que o fazem, mas na prática não é isso que acontece. De uma modo muito genérica e simples, para que todos entendam, existem 2 métodos de defender à zona utilizados no futebol actual: A zona/homem, que também lhe podemos chamar zona de marcação e a zona pressing.



A zona/homem é a zona mais utilizada, ainda, no futebol actual. Caracteriza-se pela responsabilização de cada jogador por determinada zona ou espaço. Caso o adversário “caia” nessa zona é sua missão marca-lo. Podemos dizer então que esta forma zonal de defender é passiva e deve adaptar-se à organização ofensiva do adversário.



A "zona pressing" é um método zonal defensivo que está em crescendo no futebol actual. Equipas como Barcelona, Real Madrid, Manchestes United, Chelsea, Benfica, Porto, etc, utilizam este método defensivo, oferecendo iniciativa defensiva aos seus jogadores e não os subjogando assim, às movimentações ofensivas dos adversários. Podemos caracterizar a zona pressing como uma combinação de pressões e coberturas* em que o mais importante não é o adversário, mas sim, a bola, os colegas e o espaço. Aqui a chamada “marcação” deixa de ter significado havendo lugar apenas a ajustamentos pontuais que variam  com posicionamento do adversário e que vão no sentido de dar sempre superioridade numérica à equipa. Com esta forma de defender pretende-se retirar tempo e espaço aos adversários para pensar e executar, tentando assim, forçar o erro e recuperar a bola o mais rápidamente possível.

Em minha opinião, a zona pressing requer um trabalho específico bastante complexo, no que ao treino diz respeito. Não podemos pedir às nossas equipas apenas que defendam em “zona pressing” (como fazem inúmeros treinadores). Temos sim, de treinar as nossas ideias defensivas para que os jogadores as conheçam e as consigam dominar.

*As coberturas não se fazem aos adversários,  como nos dizem alguns pseudo-experts do nosso futebol. Fazem-se sim aos nossos colegas fechando dessa forma determinados espaço e assegurando sempre uma possível dobra, caso o colega a quem fazemos a cobertura steja batido.




quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Erro táctico do Benfica no golo de Giggs


Ninguém tem dúvidas que o golo de Giggs, ontem contra o Benfica, foi um grande golo, daqueles que só os grandes jogadores conseguem inventar. Ninguém tem dúvidas também que esse golo é apenas mérito de Giggs e que a outra equipa nada podia fazer para o evitar. Bem, aí eu tenho dúvidas. Aliás, parece-me uma jogada perfeitamente evitável com um bom posicionamento zonal.
Fica aqui a minha análise do lance.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Qual o “porquê” deste blog


É com toda a alegria e prazer que dou início a este espaço, no qual, posso exprimir as minhas crenças, indignações, opiniões e convicções acerca daquilo que mais gosto: Futebol.

O meu objectivo é falar de um Futebol bem diferente daquele que estamos habituados e que constantemente é discutido por todos e qualquer um, quer nos cafés quer nas rádios, quer nas televisões. Não quero meter todos no mesmo saco, mas por vezes fico com sensação que até alguns daqueles que deveriam saber, têm várias carências do ponto de vista das terminologias e da verdadeira compreensão do jogo.

É minha intenção escrever sobre o jogo de Futebol que eu vejo. Um jogo que é dividido em 4 momentos dinâmicos e 2 momentos estáticos. Um jogo que é táctico, técnico e mental. Um jogo, que a meu ver, é extraordinário, não pela paixão “clubistica” mas pela paixão pelo próprio jogo de Futebol. É essa a minha paixão.

Para começarmos em grande, deixo-vos desde já, esta extraordinária análise que encontrei do Real Sociedade 2 Barcelona 2 deste fim-de-semana.



Quem sou eu

O meu nome é Miguel Cunha Guimarães, tenho 28 anos e sou Licenciado em Educação Física e Desporto. Tirei o curso de Treinadores nível I e II e o meu percurso no futebol é ainda bastante curto. Comecei como treinador/professor de uma equipa de escolas e ao mesmo tempo, ainda sem o curso acabado, era “preparador físico” de uma equipa de iniciados. Depois, fui treinador de 2 equipas de juniores durante 4 épocas 3+1. Por fim fui “preparador físico” (só Deus sabe o quanto detesto esta palavra) e treinador adjunto de uma equipa da 2ª Divisão b. Realizei uma tese monográfica na área do Scouting com o título “A Influência do Próximo Adversário na Elaboração do Micro-ciclo Semanal”. Ao longo dos anos fui realizando vários trabalhos de Scouting, quer para as equipas onde trabalhei, quer para outras equipas que pontualmente me contratavam para o fazer. Todos os trabalhos de observação que realizei em conjunto com todo o estudo diário, fizeram de mim alguém capaz de falar de um futebol bem diferente daquele que é falado nos cafés e porque não, na nossa rádio e na nossa televisão.