Pela primeira vez neste
blogue escrevo sobre o meu Vitória. Em altura eleitoral surgem ideias
financeiras e estratégicas, ideias importantes mas que, a meu ver, nunca
atingem a questão essencial e realmente estrutural para um clube grande e com
uma massa adepta apaixonada como o Vitória. Chamemos-lhe IDENTIDADE
FUTEBOLISTICA.
A minha ideia, não
utópica, passa por uma Identidade/modelo de jogo à Vitória, praticada e
treinada por todas as equipas, desde o plantel principal, passando pela equipa
B e acabando na formação. Não quer dizer que todos joguem em 4-3-3 ou em 4-4-2,
mas sim que todos conheçam, treinem e materializem em campo os grandes princípios
de jogo do clube, independentemente do adversário, do campo ou da classificação
actual da equipa. Este modelo tem como grande vantagem a adaptação rápida de
atletas nas mudanças para escalões superiores bem como um aumento de afinidade
entre a equipa e os seus sócios por força de um futebol ofensivo e atractivo
implementado pelo clube.
Para que tenhamos uma
perspectiva mais realista daquilo que falo, façamos um pequeno exercício
mental. Imaginemos o nosso Vitória a jogar sempre num bloco alto, pressionando
durante 90 minutos. Imaginemos um futebol em que a posse e o toque sejam
pressupostos obrigatórios e que a reacção à perda de bola (transição defensiva)
seja em pressing e não em recuperação. Imaginemos ainda a nossa equipa a
realizar transições ofensivas apoiadas utilizando toda a largura e envolvendo
muitos jogadores nesse momento de jogo. Imaginemos por fim uma equipa que
sempre que possível joga rápido nas bolas paradas tentando tirar partido da
desorganização momentânea dos adversários. Esta podia muito bem ser a nossa
equipa!
Mas, se esta forma de
pensar o futebol é tão boa e atractiva, então porque é que com excepção do Ajax e
do Barcelona praticamente ninguém a utiliza?
A resposta é simples.
Para que este modelo seja exequível é necessária uma equipa directiva à frente
do futebol do clube que entenda o jogo e seja forte nas suas decisões. Uma
equipa directiva com força e autonomia para contratar, mas principalmente para
dizer NÃO em algumas circunstâncias. Depois é necessário que o treinador da
equipa sénior seja escolhido com determinado perfil, pois se assim não for,
passam a ser apenas as suas ideias a prevalecer deixando de haver uma
identidade futebolística do clube. Assim o treinador X, com o perfil adequado,
chega ao clube e toma conhecimento da sua identidade futebolística, um modelo
no qual se identifica, utilizando-o e adaptando-o de uma forma rápida e natural.
É necessário ainda que
haja um modelo de jogador à Vitória, construído desde a formação ou através de
contratações que obedecem a um perfil bem definido, tanto do ponto de vista
mental como do ponto de vista das suas características técnico-tácticas.
Podem achar que esta é
apenas a minha utopia, mas acreditem, este é um modelo realista, já posto em
prática numa dimensão diferente. Acho que esta é altura ideal para pensarmos no
nosso clube de uma forma diferente, pois caso não tenham reparado, o Vitória
tem um potencial impar mas ano após ano vem sendo banalizado por políticas
erradas que acumuladas deram o resultado que infelizmente todos presenciamos.