O Barcelona de Guardiola é, em minha opinião, o melhor conceito de jogo de
que há memória. Toda a gente se delicia com a forma como a bola é circulada e
como os espaços são preenchidos, mas na prática ninguém consegue chegar perto
daquela harmoniosa forma de jogar. Até aqueles que, publicamente, dizem
identificar-se totalmente com este Barcelona não conseguem, de todo, fazer com
que as suas equipas materializem o tão falado TIKI-TAK.
Mas, o que faz do Barça uma equipa tão diferente? Quais os princípios do
seu jogo que lhes permitem fazer o que ninguém faz? É isso que vou tentar
responder.
Todo este Barça é Guardiola e Guardiola, ao contrário do que dizem por
aí, não é a cópia de Cruyff. Na cabeça deste super treinador está uma forte obsessão pela
posse de bola, obsessão essa que nasceu do Barcelona de Cruyff (grande equipa, mas muito menos
elaborada que o Barça actual) sendo, no entanto materializada de uma forma
distinta.
Conceito base de todo o jogo do Barcelona - Efeito dominó:
Fazer com que a bola saia do
Guarda-redes e vá até aos avançados sem saltar etapas.
1.
A lógica do homem livre - A equipa
encontra-se em 4-3-3 com os defesas centrais muito abertos (vértices da área),
os laterais muito subidos, o triângulo do meio campo bem aberto e os extremos e
o avançado muito subidos. Valdez toca num central e este conduz a bola até lhe
sair ao caminho o avançado adversário. Aí, a bola é tocada para o Médio defensivo
ou para o outro central (homem livre) ficando desde logo o primeiro adversário
batido. Depois o médio defensivo (Busquet por exemplo) leva a bola, atacando o
espaço, até lhe sair ao caminho outro adversário, aplicando-se de novo a lógica
do homem livre. Praticamente é um conjunto de situações consecutivas de 2
contra 1.
2.
O 3º Homem – Toda esta dinâmica complementa-se
com este homem. O 3º homem é aquele que se encontra numa posição mais alta no
terreno (avançados ou extremos, por exemplo) e que simplesmente pede a bola mas
na verdade não a quer. A sua intenção é sempre tocar de imediato para os médios
que se encontram nas suas posições, bem de frente para o jogo.
Exemplo prático: Busquet tem a bola e,
à saída do seu adversário, passa-a a Villa que na verdade apenas fez o
movimento de vir buscar, não para se virar e ficar com a bola, mas sim para a
entregar, de primeira, a Xavi ou Iniesta que se encontram já numa posição privilegiada
para definir a jogada.
3.
Sair sempre a jogar pelo meio – este
princípio tem apenas uma excepção que se prende com o facto de os laterais conseguirem
receber à frente dos seus adversários directos. Caso isso não suceda, Guardiola
quer sempre que a equipa saia a jogar pelo meio libertando assim os extremos.
Estes encontram-se em largura total e quando conseguem receber (depois de algum
tiki-tak pelo meio já explicado mais a cima) vão quase sempre em diagonais para
a baliza.
4.
Poucas trocas posicionais – Se repararmos
vemos uma dinâmica fortíssima e mobilidade tremenda mas muito poucas trocas
posicionais. Raramente vemos Pedro, por exemplo, a vir buscar ao meio e Iniesta
a abrir numa ala. Este factor permite aos jogadores terem as suas missões
melhor definidas e concentrarem-se assim apenas no que devem fazer nas suas
posições.
5.
Atacar preparados para defender – Todo o
jogo posicional do Barcelona (outra obsessão de Guardiola) caracteriza-se por
ter sempre coberturas ofensivas – mais vulgarmente chamadas “apoios” – com uma
dupla missão: dar sempre uma linha de passe segura ao portador da bola e, caso
esta seja perdida, pressionar com tudo o adversário que a roubou. Desta forma
Guardiola consegue que a sua posse de bola seja aumentada a dobrar, pois se por
um lado apoia o portador da bola para que este não a perca, por outro, caso
isso aconteça está logo pronto para a recuperar rapidamente.
6.
O segredo de Messi – O posicionamento de
Messi é um dos grandes segredos para que seja, provavelmente, o melhor jogador
do mundo. Quando a equipa ataca, este jogador tem liberdade total para ser o 4º
homem do meio campo (aparece como homem livre e como 3º homem e quando se
encontra mais aberto, faz ele as diagonais para o meio), tendo apenas a
obrigação de aparecer na altura de finalizar. Quando a equipa perde a bola
apenas se concentra em pressionar naquele momento (transição defensiva). Na prática,
não tem mais nenhuma missão defensiva. Este facto faz com que Messi esteja
sempre “fresco” para atacar.
Podia sem dúvida ser mais extensivo e falar de mais princípio
desta super equipa e deste super treinador, mas parece-me que estes são o ADN
desta equipa e o motivo pela qual ela é tão diferente de todas as outras
equipas do mundo.
É minha intenção, no meu próximo artigo mostrar em vídeo
todos os princípios que aqui vos falo.